Dois jornalões brasileiros, a Folha de S.Paulo e O Globo gastaram muito papel e tinta no fim de semana (edições de domingo, 15.11) para resgatar a memória das eleições presidenciais de 1989. Foram as primeiras realizadas no país após 25 anos em que a ditadura militar impôs as indiretas com as quais colocou no Palácio do Planalto cinco marechais e generais-presidentes, além de três oficiais-generais integrantes de uma Junta Militar.
Por José Dirceu, em seu blog
A Folha se limitou mais a um registro, ainda que interpretativo do jornalista Fernando Rodrigues. O Globo fez uma memória de quatro páginas com viés negativo para todos, mas principalmente para o presidente Lula, já que a tônica é que este foi adversário — arquiinimigo, diz o jornal — dos ex-presidentes Fernando Collor de Mello e José Sarney, hoje aliados de seu governo.
A memória e o resgate são válidos, mas o único fato que vale a pena destacar das eleições presidenciais de 1989, os dois jornais não podem ou não tem coragem de assumir: eles apoiaram Collor, que só foi eleito porque contou com o apoio da mídia. aliás, o próprio Collor agora admite isso.
Naquela campanha e eleição daquele ano, ela fez de tudo, sem nenhum limite ético, para derrotar Lula e eleger Collor. A mídia é, assim, a única responsável pela sua eleição junto com o grande empresariado.
Reedição
Preparamo-nos para nova eleição, a sexta desde que as diretas foram restabelecidas para presidente e agora, vivemos situação idêntica à de 20 anos atrás, em que vale tudo de novo na mídia.
Estão de volta até seus ventríloquos — como o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), com muitas falas em O Globo, ontem — para repercutir e repetir que a única consequência, ou a mais importante que ele destaca do pós-1989, é o apoio que os ex-presidentes Fernando Collor e José Sarney, agora senadores, dão hoje ao governo do presidente Lula.
O Globo não foi capaz — não quis ou não lhe interessava, o que é mais óbvio — de publicar uma palavra, de recuperar o apoio dos tucanos ao governo Collor quando todos sabem, é só puxar um pouco pela memória, para lembrar que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (então no Senado) e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) quase foram ministros de Collor.
Só não foram ministros porque o companheiro deles, então senador Mário Covas (PSDB-SP), contrário a esse apoio, criou uma situação constrangedora que os impediu. E o apoio deles, e de todo o tucanato ao governo José Sarney? Naquelas duas ocasiões, o PT e Lula estavam e continuaram na oposição.
A mídia elege Collor
O agora senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) não quis falar ao O Globo sobre sua eleição para presidente em 1989, mas em compensação rasgou o verbo para Haroldo Cervalo Sereza na série especial do UOL a respeito, numa entrevista em que colocou muitos dos pingos nos is sobre sua vitória naquele pleito de 20 anos atrás.
À série especial do UOL, o agora senador alagoano foi franco e o online utilizou no título: "Relação com a Globo 'ajudou bastante', lembra Collor". O ex-presidente recorda, ainda, que sua candidatura era vista com simpatia também pelos outros grupos de mídia.
"Havia receio dos meios de comunicação de um eventual governo comunista", admite Collor, acentuando que o candidato da mídia seria o senador Mário Covas (PSDB-SP), mas ele "não decolou". Sua candidatura ganhou simpatia, então, conclui Collor, "porque não havia alternativa" para a mídia e setores conservadores.
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